Total de visualizações de página

quinta-feira, 17 de março de 2016

A vida dentro de uma gaiola: encantos de 4x2 que dão poeira em 4x4

Compartilho hoje uma matéria dedicada aos amantes das gaiolas, ou aranhas, como normalmente chamamos em nossa região. Confira aí:

Emoções baratas. Os restos de um Fusca ou Brasília são o começo do projeto, depois é fazer ao gosto do freguês. Há gaiolas 0km à venda por R$ 20 mil - divulgação / Rafael Grella / Fotos do arquivo de Rafael Grella
RIO - Gaiola é um sinônimo de liberdade no mundo dos motores. Esses veículos tubulares foram inventados para rodar em contato com a natureza, encarando atoleiros e subidas íngremes. Nessa convivência íntima de homem e máquina em situações de uso extremo, em que capotar o carro é coisa corriqueira, os “gaioleiros” mantêm vivo o costume de pôr a mão na graxa para resolver problemas mecânicos — coisa cada vez mais rara em tempos de modelos de alta tecnologia.

Nas redes sociais, é fácil achar grupos para trocar informações e negociar peças. Também é possível encontrar kits para montar o veículo em casa ou comprá-lo customizado de fabricantes artesanais como Fabrício Batel, 28 anos. Ele fez sua primeira trilha em 2006 e hoje, juntamente com outros nove sócios, é dono da Metal Nobre, empresa especializada em gaiolas na cidade paulista de Pirassununga.

— Começou como um esporte para relaxar e sair da rotina. Tomei gosto pela aventura, e toda vez que as gaiolas não venciam um obstáculo, eu achava um jeito de adaptar o veículo para superá-los — lembra o gaioleiro.

Os amigos viam e pediam que o rapaz fizesse as mesmas modificações em outras gaiolas. Por fim, começaram a pedir que ele montasse veículos completos.

Fabrício, que também é guarda municipal, conta que já vendeu pelo menos 400 gaiolas 0km, que saem por preços a partir de R$ 20 mil. Cada veículo leva um mês, em média, para ficar pronto. Muitas das encomendas vêm de pais que querem passear com a família por estradas rurais e tirar os filhos da frente do computador e dos videogames.

Em Ipeúna, também no interior de São Paulo, Rafael Grella, professor de Educação Física, começou a percorrer trilhas com os amigos, há 17 anos, e montou sua própria gaiola. Ele chegou a fazer um curso de mecânica, mas aprendeu o principal no dia a dia e na troca de informações on-line:

Versátil. Na lama, na areia e até na água, a diversão é certa, mas é preciso estar atento à qualidade da construção - divulgação / Rafael Grella
— Uso muito o WhatsApp e o Facebook, e também recebo muitos e-mails perguntando sobre configurações ou quais peças usar. Procuro responder a todo mundo.

Um detalhe importante é que as gaiolas têm tração apenas nas rodas traseiras, mas superam obstáculos difíceis até para muitos jipes 4x4 — isso é motivo de grande orgulho para essa turma.

Tal destreza se deve ao fato de as gaiolas terem como base a versátil plataforma do Fusca e da Brasília, simples, robusta, com fundo bem liso e suspensão independente por barras de torção. Com entre-eixos encurtado em uns 35 centímetros e muito leves (pesam entre 400 e 450 quilos), elas brincam na lama e na areia.

As gaiolas têm o mesmo propósito básico dos jipes com tração 4x4. A onda, porém, é bem diferente.

— A gaiola traz mais emoção, mais adrenalina, acelera mais. Com o jipe, é preciso ter cuidado porque tomba fácil, por ser mais pesado. O melhor momento é quando aparece um obstáculo de nível alto e você consegue passar. Não há dinheiro que pague — vibra Rafael, que faz parte do Jeep Gaiola Clube Ipeúna.

SEM PLACA NA TRILHA

Muitos gaioleiros têm preferido usar motores VW AP (refrigerados a água) em seus veículos em vez dos motores “a ar” do Fusca. Levam vantagem por render muito mais torque e potência, além de durar mais do que os tradicionais “boxer”.

Quem precisa de 4x4? Leves e com chassi de Fusca, liso por baixo, as gaiolas dão poeira em muitos jipes - divulgação / Rafael Grella
O professor de engenharia mecânica da Coppe/UFRJ, Fernando Castro Pinto, alerta que toda construção deveria ser feita por engenheiros que garantam a segurança:

— Um entusiasta pode até executar um projeto, mas deve fazer de maneira adequada, pois essas máquinas podem pôr a vida em risco.

Quando usadas apenas em trilhas, as gaiolas não precisam de emplacamento (vão da garagem ao mato rebocadas). Mas é possível legalizar o veículo como “protótipo”, instalando os itens que são exigidos na vistoria dos carros comuns.

Daí é afiliar-se a algum clube e partir para os passeios. Em Saquarema, o grupo Saqua Buggy organiza passeios há 15 anos, sempre com a participação de gaioleiros.

Menos é mais. Leveza é fundamental e nada de luxo, só bancos concha - divulgação / Henrique Moraes
O maior evento promovido pela associação tradicionalmente ocorria na praia, em janeiro, mas teve de ser cancelado este ano, pois os veículos foram proibidos de entrar na areia, que virou área de preservação ambiental. Por conta desse impedimento, as próximas aventuras tomarão o rumo das montanhas.

— Fazemos passeios turísticos que criam consciência ambiental — afirma Eldo de Oliveira, presidente do clube e também fabricante de gaiolas.

Fonte: http://oglobo.globo.com/economia/carros/a-vida-dentro-de-uma-gaiola-encantos-de-4x2-que-dao-poeira-em-4x4-18786068

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá! Fico feliz por você querer deixar aqui o seu comentário. Porém é importante que você saiba que ele poderá ser moderado.
Obrigado. Josiel